Monday, April 20, 2009

Por enquanto
que você não vem
Escrevo
Pra ver se gasta o desejo
De ir além
Se me escorre o gosto
Junto com as palavras
Se me seca a boca
Quando acabar o verso
Escrevo só porque não
Tenho o seu beijo
Se tivesse agora,
Rasgaria a roupa
(Junto com o papel)
Fecharia os olhos
E soletraria gemidos
Nada de palavras feitas
Nem rimas,
Nem poesia,
Ia tratar de combinar
sua pele junto com
A minha
E de pingar o suor
Em vez de ficar
Me derramando
Em Palavras.

Tentei destilar
Soprar, espremer
Sequei ao sol
Estendi em um lençol
Pendurei no varal
De frente pra luz
Mas a tosca figura
É a mancha,
A mistura,
Um contágio avançado
Da sua alma na minha
Não se acha o início,
Nem a cura
Há que se conformar
Com o fato estampado:
Não se pode mais vê-la
Pura.

É a sina
do desejo:
Ou vira verso
Ou vira beijo.

Desde que te vi
Sua língua ainda passeia
Macia e cheia
Encharcando
minha imaginação
Se por um segundo estou só
No outro já estou dopado,
Cego, capturado
Rendido a um beijo
Sem tempo,
Sem defeito.
Meus lábios ainda falam
a sua língua
E dançam sobre a sua boca
Na melodia silenciosa
De cinco segundos só
E rastejam, e esperam
E almejam
O encontro
Só mais um ponto
Só mais um santo descanso
No berço do seu sorriso.

Vontade agoniada
Relógio disparado
Corrida de continhas
Estalar de roldanas
Pipocar de coração
Uma vontade que não
Passa e arde,
Empurrando as veias
Correndo na contra mão
Tudo no meu corpo estremece
E o cabelo se estica
E o pé balança
Um tique-taque que se tarda,
Cansa
Mania de viver mais um pouquinho
Neurose de sair um pouco mais
Parece que meu ar
Está lá fora,
Depois da porta,
Me esperando,
Junto com o sol.

Amor per dia.

Ainda não me acostumei
O sábado passado
É um lugar tão distante
O beijo de amor
Não dura mais que um
instante
E o olho no olho
Tão fácil se perde

Amor que se apaga
Com as luzes do salão.
E meu coração fica só
Soluçando o refrão
Sem canto,
Sem multidão.

Amor que é por si só
o último verso da poesia
Que é uma única nota
De uma imensa melodia

Que morre e mata
De amor eterno
Por apenas um dia.

Monday, April 09, 2007

arma

A palavra carregando um olhar
E o tom de uma canção cortante
As notas que só sabem arranhar
O golpe de um só instante
Da goela a dor, o gosto frio
O pensamento como arco
Sem flecha, vazio
Sobrou-lhe o tremer da corda
O gemer da última vogal
O pobre juízo incontido
E a culpa de todo mal
Agora nunca mais mágoa, nem rancor
Nem mais um minuto de agonia
Minhas palavras ficam melhores
em um vidrinho de poesia.

Thursday, April 05, 2007

a você

Ofereço esse livro
ao fazedor dessas linhas.
Ao dono desse poema
Ao senhor do verso e da razão.
Não a esse que foi inspirado
Mas a quem foi a inspiração.
Ofereço o choro a quem me fez chorar
Ofereço o riso a quem me fez sorrir
Ofereço o amor a quem me fez amar.
Ofereço tudo
A quem deu fôlego a essas linhas
A quem deixou um traço, um rabisco,
um desenho, um rasgão
no verso da folha: na alma
a quem me fez
sair do branco
Pra me tornar palavra de emoção.

E se mais houvesse
Mais eu beberia
Até que eu fosse por inteira
Perfume e graça
Soluçando em poesia
Tropeçaria em um verso ou em outro
Com um sorriso tão puro, tão novo
Desfilando um passo descompassado
Fazendo desenho na calçada
Sentaria debaixo da lua
E mesmo se ela não estivesse
Fosse a rua toda nua
Ficaria por tanto amor
Embriagada

Chovia ardentemente na minha janela
E na minha alma apenas um silêncio profundo
Um desejo de pausa atemporal
Um completo incompleto no mundo
Não sorria, nem chorava
Não vagava, nem dormia
Buscava
Até então o que eu não sabia
Não gostaria de olhar pra dentro
Mas também sabia que não estava fora
Eu era exatamente o olhar na janela
Preso no aqui e no agora.

Depois da chuva

Agora já tinha o cheiro das últimas gotas da chuva
Já tinha os primeiros raios do sol
Que não ardiam
Tinha uma brisa mansa, como que a varrer lembranças
E um arejar do coração, ainda cansado
Nada se dizia
Se algo se ouvia, era o canto dos pássaros...
Mas todo mundo agia como se soubesse
De cada um dos nós do meu cabelo
Tudo me olhava como se entendesse
Como se tivesse visto o vento passar
Mas agora era a nova hora
E da hora que passou
Ninguém queria falar.

um segundo

E o sopro
Atravessou os olhos
Atravessou os poros
Atravessou a carne
Atravessou o medo
E se jogou com toda força
Contra a parede do meu peito
E antes que houvesse tempo
Para o sangue circular
Já estava feito
Já estava lá
A marca quente e perene
e o silêncio ...
de quem acabou de ver tudo mudar.
saía então o sopro, culpado
como um inocente respirar.

Um

Só se vive um minuto, Maria
Só se bebe um gole de cada vez
Mas é de tanto esse mundo rodar
Que a gente quer ver a história passar
Antes de contar até três

E pede que o agora se mude
Assim, do jeitinho que está
E ri só de ver, e dói de sonhar
E chora do q(ue nem começou acabar

Passatempo virou coisa séria
Todo mundo vivendo agora o depois
No cochicho da orelha,
na aba da janela,
Na barra da camisola,
Depois de um jantar a dois.

A gente só vive um dia, é verdade
E do futuro bom,
Sempre sente saudade.
Vai bebendo um gole de cada vez
Mesmo tendo sede de eternidade.

Wednesday, December 20, 2006

Viver na fonte, viver no amor

Quanto mais eu sentia,
Mais eu era.
Quanto mais eu sorria
Mais vivia
E fazia viver.
Quanto mais amava
Mais me tornava
Aquilo que gostaria de ser.
Um raio de luz.
O melhor de mim
morando em ti, Jesus.
E alugado,
simplesmente doado,
Pra você.

Monday, December 04, 2006

saudade

Saudade é malandra
É cumadre...
Chega assim de longe,
leva tempo,
Vem de trem.
Vem com a malinha cheia
da lembrança de alguém.
Não avisa que vem fazer uma visita
Não te manda nem um cartão postal
Saudade, meu amigo, só aparece no final
Talvez pra fazer um novo começo
Pra revirar seus papéis
Pra levar sua cabeça nas mãos.
Pra misturar todas as horas do seu tempo
[tão seu até então]
Saudade nunca tem pressa não...
Ela espera tudo, vem olhando a paisagem
Chega assim, de mansinho
Justo na hora que você parou pra descansar
No suspiro do silêncio
Na brisa fria do mar
No momento que nem foi feito pra lembrar
Saudade é moça cheia de ternura.
E, como uma gentileza da vida,
vai chegando pra ficar.

- entre nós -

As horas contrárias
Os olhos difusos
Pros risos, os choros
Pros choros, os risos
O encontro das línguas
O desencontro das linguagens
A valsa da dúvida embalando
o completo e o vazio
o presente e o ausente
a esperança e o medo
De constante e comum mesmo
Só o silêncio
(pra quem souber entendê-lo)

Monday, November 06, 2006

só pra você saber

Se amanhã eu não estiver aqui
Saiba que sempre que estive, amei
Cada traço do seu sorriso.

E toda vez que você me encontrava
com o seu olhar
Eu me perdia docemente
onde ninguém podia achar
Entre o sonho e a vida
em uma foto que nunca pode se apagar

E muitas vezes no seu colo, nos seus olhos
Te vi.
Tão radiante, tão imerso em felicidade
Que mais parecia ter saído de mim.
E calei meus sentidos só para sentir
O que naquele instante
Se encontrava
Enfim um,
sem fim.

Se o amanhã não for nosso, baby
Por mim ou você, se tiver que ser assim
Saiba de tudo que foi seu
Sinceramente seu,
Verdadeiramente seu.
Cada segundo seu.

Porque antes disso,
Existiu feliz e despretensiosamente
Alegre e corajosamente
Na eternidade
de mim.

Friday, October 27, 2006

Quase não agradeci

Obrigado Pai, pelo dia que se vai. Obrigado pela noite que se vem. Por todos os risos repetidos no meu ouvido. Obrigado pelo meu também. Obrigado pelo meu olhinho apertado de felicidade. E por aquele aperto danado que hoje foi passear e não me convidou. Pelo abraço mais chegado e por aquele que ainda nem chegou. Por essa respiração de agora, agorinha mesmo, que ainda me permite que eu possa agradecer. Pelo que sonhei e vivi. Pelo que sonhei tanto e doí. Por todo sonho que ainda vai nascer. Por tudo o que meu jovem pensamento, satisfeito, se gabou de conseguir explicar. E por todo esse dia perfeito, que de tão maior, me endireito. E prefiro parar de pensar. Obrigado por esse pôr do sol no mar, desenhado no meu coração. E pela voz da menina inocente, sempre inventando canção. Por mais esse passinho, meu Pai. Por aquilo que crio de olhos fechados e pelo que acabei de ver. Pelo esforço nenhum, pela alegria incomum, de simplesmente sentir e ser.