Friday, October 27, 2006

Quase não agradeci

Obrigado Pai, pelo dia que se vai. Obrigado pela noite que se vem. Por todos os risos repetidos no meu ouvido. Obrigado pelo meu também. Obrigado pelo meu olhinho apertado de felicidade. E por aquele aperto danado que hoje foi passear e não me convidou. Pelo abraço mais chegado e por aquele que ainda nem chegou. Por essa respiração de agora, agorinha mesmo, que ainda me permite que eu possa agradecer. Pelo que sonhei e vivi. Pelo que sonhei tanto e doí. Por todo sonho que ainda vai nascer. Por tudo o que meu jovem pensamento, satisfeito, se gabou de conseguir explicar. E por todo esse dia perfeito, que de tão maior, me endireito. E prefiro parar de pensar. Obrigado por esse pôr do sol no mar, desenhado no meu coração. E pela voz da menina inocente, sempre inventando canção. Por mais esse passinho, meu Pai. Por aquilo que crio de olhos fechados e pelo que acabei de ver. Pelo esforço nenhum, pela alegria incomum, de simplesmente sentir e ser.

Thursday, October 26, 2006

Cuidado, Frágil.

Sou só uma menina com cara de menina...
Se pudesse, meus pés ficariam todo o tempo
Balançando ao vento
E meus olhos, despretensiosos,
olhando quem quisesse passar
O sol acabaria com meu frio
O único frio que as pessoas sabem provocar
O vento me faria companhia
Leve, cúmplice, pra onde eu quisesse caminhar
Tudo para proteger aquela que nasceu dentro de mim, a flor
Para não deixá-la se assustar
Tudo para que seu perfume continue a presentear o mundo
Saindo pelo sorriso, pelo olhar.
Muitas vezes eu não posso me esconder,
E calo.
Fujo ao contrário, de volta pra casa,
para algum lugar dentro de mim.
Descanso no silêncio, às vezes triste,
de quem volta e meia se sente só
Mas pra continuar amando,
prefere que seja assim.

Wednesday, October 11, 2006

Tenha calma

Tenha calma com as mudanças de vida
Os dias em que seu coração não quiser conversar
Os dias em que sua pele vai arrepiar com qualquer brisa
As noites que vão demorar mais de passar
Tenha calma quando sua mente não encontrar uma explicação
Talvez não seja mesmo para ela saber
Talvez seu sentimento tenha que escolher
Até na escuridão
Tenha calma com suas dores finas, como a picada de agulha
E o formigamento que dá no peito, incomodando a alegria
Tenha calma com a melancolia fora de hora
Com a saudade de você, em pleno meio dia
Tenha calma principalmente com a angústia
Que pode chegar bradando contra sua paz
Tenha paz pela sua angústia.
Que rapidinho ela se desfaz
Ame você, com todo cuidado
E todo seu mistério interior
Com toda alegria ou toda dor
Saiba esperar a transformação
Como quem aguarda uma boa notícia
A resposta de uma oração
Como a certeza do dia que nasce
Com a voz que consola o coração
Ame os segredos da vida
E a sua delicada mania de renovação.

Monday, October 09, 2006

Feita de

Eu era um mistério no tempo
Tão feita da mesma matéria que ele
Eu tinha seu sonho, seu grito, seu silêncio
Eu tinha a mesma energia movendo meus pedaços
Eu tinha o mesmo segredo
De quem também não se pertencia
Eu me descobri avulsa
Me descobri observadora de mim
Não sabia das minhas chuvas
Nem do mau tempo que passava sombreando a minha alma
Tinha exatamente os mesmos olhos de interrogação
E a mesma beleza inocente,
De quem pulsa sem nunca ter que pedir
Sem motivo aparente, sem explicação
Tinha a mesma alegria da vida
E a mesma impossibilidade de agarrar o tempo com as mãos,
De segurar qualquer momento, qualquer emoção
Dona, talvez, só dos pensamentos
Isso se não se perde a razão
Nesse passos tão certos de fazer o caminho
Nesse caminho tão certo que vai fazendo os passos
Nesse segundo impotente
Em que se descobre
Irmã do mundo
de sangue, de mistério,
de amor, de dor,
de olhar.