Monday, April 09, 2007

arma

A palavra carregando um olhar
E o tom de uma canção cortante
As notas que só sabem arranhar
O golpe de um só instante
Da goela a dor, o gosto frio
O pensamento como arco
Sem flecha, vazio
Sobrou-lhe o tremer da corda
O gemer da última vogal
O pobre juízo incontido
E a culpa de todo mal
Agora nunca mais mágoa, nem rancor
Nem mais um minuto de agonia
Minhas palavras ficam melhores
em um vidrinho de poesia.

Thursday, April 05, 2007

a você

Ofereço esse livro
ao fazedor dessas linhas.
Ao dono desse poema
Ao senhor do verso e da razão.
Não a esse que foi inspirado
Mas a quem foi a inspiração.
Ofereço o choro a quem me fez chorar
Ofereço o riso a quem me fez sorrir
Ofereço o amor a quem me fez amar.
Ofereço tudo
A quem deu fôlego a essas linhas
A quem deixou um traço, um rabisco,
um desenho, um rasgão
no verso da folha: na alma
a quem me fez
sair do branco
Pra me tornar palavra de emoção.

E se mais houvesse
Mais eu beberia
Até que eu fosse por inteira
Perfume e graça
Soluçando em poesia
Tropeçaria em um verso ou em outro
Com um sorriso tão puro, tão novo
Desfilando um passo descompassado
Fazendo desenho na calçada
Sentaria debaixo da lua
E mesmo se ela não estivesse
Fosse a rua toda nua
Ficaria por tanto amor
Embriagada

Chovia ardentemente na minha janela
E na minha alma apenas um silêncio profundo
Um desejo de pausa atemporal
Um completo incompleto no mundo
Não sorria, nem chorava
Não vagava, nem dormia
Buscava
Até então o que eu não sabia
Não gostaria de olhar pra dentro
Mas também sabia que não estava fora
Eu era exatamente o olhar na janela
Preso no aqui e no agora.

Depois da chuva

Agora já tinha o cheiro das últimas gotas da chuva
Já tinha os primeiros raios do sol
Que não ardiam
Tinha uma brisa mansa, como que a varrer lembranças
E um arejar do coração, ainda cansado
Nada se dizia
Se algo se ouvia, era o canto dos pássaros...
Mas todo mundo agia como se soubesse
De cada um dos nós do meu cabelo
Tudo me olhava como se entendesse
Como se tivesse visto o vento passar
Mas agora era a nova hora
E da hora que passou
Ninguém queria falar.

um segundo

E o sopro
Atravessou os olhos
Atravessou os poros
Atravessou a carne
Atravessou o medo
E se jogou com toda força
Contra a parede do meu peito
E antes que houvesse tempo
Para o sangue circular
Já estava feito
Já estava lá
A marca quente e perene
e o silêncio ...
de quem acabou de ver tudo mudar.
saía então o sopro, culpado
como um inocente respirar.

Um

Só se vive um minuto, Maria
Só se bebe um gole de cada vez
Mas é de tanto esse mundo rodar
Que a gente quer ver a história passar
Antes de contar até três

E pede que o agora se mude
Assim, do jeitinho que está
E ri só de ver, e dói de sonhar
E chora do q(ue nem começou acabar

Passatempo virou coisa séria
Todo mundo vivendo agora o depois
No cochicho da orelha,
na aba da janela,
Na barra da camisola,
Depois de um jantar a dois.

A gente só vive um dia, é verdade
E do futuro bom,
Sempre sente saudade.
Vai bebendo um gole de cada vez
Mesmo tendo sede de eternidade.