21 DE MARÇO
Fico pensando se não nasci pra ser outono.
Pra fazer com que as coisas e as pessoas se renovem
se transformem, acreditem na primavera de amanhã.
Fico pensando se não nasci da natureza, quase como terra.
De modo que a falta de paz do mundo me consome e me incomoda.
Não consigo viver sem luz.
Seria um outono sem força pra derrubar uma folha sequer.
Não consigo viver sem esperança,
porque é por ela que o outono vive.
Não consigo viver sem anunciar algo melhor,
sem acreditar nisso.
Não consigo agir sem que no meu peito já aconteça o verão
e a primavera.
Ás vezes chove em mim, sei que são coisas da estação.
Uma tristeza que deságua e inunda tudo,
um cansaço momentâneo, uma perda de razão.
Junto com um vento agitado que parece derrubar
todas as minhas certezas.
Esqueço de onde vim, para que, para onde vou.
E fico perdida como as últimas flores das árvores
Até que meu sol venha me aquecer e clarear de novo
Pedindo levemente pra eu contar o que eu já sei
Pra levantar do chão
E fazer tudo balançar
Até que a primeira folha possa, enfim, sair do lugar.